Vou-me Embora Pra Pasárgada

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Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do Rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Aqui, uma acepção romântica, um sonho, uma forma de escapar da dura realidade.
As imagens surrealistas remetem a uma característica da poesia modernista, o escapismo.

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive.

Neste trecho, a negação do mundo.
A chatice do cotidiano dá lugar a uma vida plena e feliz em Pasárgada, onde até os loucos são bem vistos e aceitos e as relações entre todos é sempre possível.

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d´água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada.

Nesta estrofe, o refúgio do poeta no seu paraíso imaginário.
Um dia típico na vida de um menino é descrito aqui, enfatizando o retorno à infância, tempo de liberdade e felicidade.
Aqui ele cita Rosa, sua ama-seca, que Bandeira eu sua autobiografia, a descreveu como uma “mulata clara e quase bonita que (…) fazia-se obedecer e amar sem estardalhaço nem sentimentalidades.
Quando estávamos à noitinha no mais aceso das rodas de brinquedo, era hora de dormir, vinha ela e dizia premptória: ‘Leite e cama!’ E íamos como carneirinhos para o leite e para a cama. Mas havia, antes do sono, as ‘histórias’ que Rosa sabia contar tão bem…”

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Pra gente namorar.

Nesta parte, inconformado, o poeta enumera todas as vantagens de Pasárgada sobre o mundo real, como o sexo livre e sem riscos, o conforto e as facilidades deste novo mundo.

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
– Lá sou amigo do rei –
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Nos versos finais, a amizade do poeta com o dono do poder o salva dos problemas da vida prática, ao mesmo tempo que permite a expansão plena de seus instintos e desejos.

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