Jura

A cada pouco jura começar vida nova. Mas quando a noite vem com seus conselhos, Seus compromissos, suas promessas; Mas quando a noite vem com sua força (o corpo quer e pede) Ele de novo sai, perdido, atrás da mesma alegria fatal.

Uma Noite

Era o quarto vulgar e miserável, escondido no andar de cima da taverna suspeita Da janela avistava-se o beco, um beco imundo e estreito. Lá de baixo, vinham as vozes de alguns operários que jogavam às cartas, divertindo-se. Ali, num leito reles, ordinário, eu tive o corpo do amor, desfrutei-lhe dos lábios rosados e sensuais toda a ebriez – tal …

Na Rua

Um rosto simpático, ligeiramente pálido, olhos castanhos, como que pisados, parecem quando muito vinte os seus vinte e cinco anos. Tem um não sei quê de artista no modo de vestir-se – talvez a cor da gravata, o feitio do colarinho; sem rumo certo vagueia pela rua, como se hipnotizado pelo prazer ilegal, o prazer tão ilegal que ainda há …

Quando Surgirem

Esforça-te, poeta, por retê-las todas, embora sejam poucas as que se detém. As fantasias do teu erotismo. Põe-nas, semi-ocultas, em meio ás tuas frases. Esforça-te, poeta, por guardá-las todas, quando surgirem no teu cérebro, de noite, ou no fulgor do meio-dia se mostrarem.

Lembra Corpo?

Lembra, corpo, não só o quanto foste amado, não só os leitos onde repousaste, por ti em outros olhos, claramente, e que tornaram a voz trêmula – e que algum obstáculo casual fez malograr. Agora que isso tudo perdeu-se no passado, é quase como se tais desejos te entregaras – e como brilhavam, lembra, nos olhos que te olhavam, e …

Diante da Casa

Ontem, andando por um bairro longe do centro, passei diante da casa onde eu entrava quando muito jovem. Ali se apoderara do meu corpo Amor com sua força maravilhosa. E ontem, enquanto eu percorria o caminho de outrora eis que se revestiram do encanto do amor as lojas, as calçadas, cada pedra, e os muros, e as janelas, e os …

Especiaria

É que o amor é especiaria Corte de diamante Na pele de todo dia, Afresco antigo pelos muros E tapumes da cidade, Tempero raro No preparo da comida, É que o amor é um azulejo decorado Na ponta da língua, Lençol bordado à mão E unhas e dentes no linho, Olho-de-boi, pérola negra, Sonho de rei, célula prima, Urânio enriquecido …

Os Teus Olhos

O céu azul, não era Dessa cor, antigamente; Era branco como um lírio, Ou como estrela cadente. Um dia, fez Deus uns olhos Tão azuis como esses teus, Que olharam admirados A taça branca dos céus. Quando sentiu esse olhar: “Que doçura, que primor!” Disse o céu, e ciumento, Tornou-se da mesma cor!

O Meu Alentejo

Meio-dia. O sol a prumo cai ardente, Doirando tudo…Ondeiam nos trigais D´oiro fulvo, de leve… docemente… As papoulas sangrentas, sensuais… Andam asas no ar; e raparigas, Flores desabrochadas em canteiros, Mostram, por entre o oiro das espigas, Os perfis delicados e trigueiros… Tudo é tranqüilo, e casto, e sonhador… Olhando esta paisagem que é uma tela De Deus, eu penso …

Saudade

Saudade é uma dor pungente Que invade a alma da gente, Sem que a gente possa evitar. É o coração dilacerado, Gritando desesperado por Um alguém que longe está. É a vontade de ficar Quando se tem que partir É o desejo de chorar Quando nos manda sorrir. Saudade é uma longa espera É uma ilusão, é uma quimera, É …